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Inclusão social e participação nas mídias digitais

Apesar  do crescimento populacional da faixa etária acima de 60 anos, o preconceito contra o idoso ainda se faz presente. Essa parcela da população agora busca enfrentar seus desafios pela emancipação na era digital.

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  Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos cresceu 18% nos últimos cinco anos, o equivalente a 4,8 milhões de novos idosos, somando mais de 30 milhões desse grupo etário. Entre eles, as mulheres são maioria expressiva, com 16,9 milhões (56% dos idosos), e os homens idosos são 13,3 milhões (44% do grupo).

Diversos fatores contribuem e participam do processo de envelhecimento, seja a genética, estilo de vida, classe social, situação profissional, familiar, história pessoal e outros. A pesquisadora Gisela Castro, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), explica a respeito da integração e impacto social: “A tendência é que vamos envelhecer ainda mais, mas não só por conta do número de pessoas mais velhas na população brasileiro

brasileira. Estamos evoluindo para uma sociedade inclusiva, de modo que haja mais tolerância e inclusão da  diversidade em suas variadas formações, como diversidade de gênero, étnica, sociocultural e, também, a diversidade etária”.

 

Um aspecto importante a ser tratado dentro do tema é o afastamento do idoso da vida social, devido à diminuição do equilíbrio corporal e do declínio funcional,  por exemplo. Alguns não conseguem atravessar a faixa de pedestre no tempo estipulado nos semáforos, outros têm dificuldades para subir as escadas dos ônibus, o que pode gerar riscos de lesões por meio de uma queda, além de inúmeras circunstâncias que passam despercebidas na sociedade.

Castro estuda, entre outras questões, a forma como o uso da linguagem negativa relacionada ao idoso reforça estereótipos.  “O idadismo ou etarismo é uma forma de preconceito e é muito insidiosa, pois está presente de uma maneira nem sempre explícita na nossa sociedade, de modo que muitas vezes fazem afirmações a respeito das pessoas mais velhas carregadas de preconceito. É muito comum, por exemplo, usar diminutivos como velhinho, velhinha, vamos embora para casinha, como se fosse carinhoso, mas, nesse modo de se dirigir aos adultos mais velhos, roubamos deles o status de adulto, é como se ele viesse a ser criança de novo”, explica.

Conectados

As mudanças ocorridas, ao longo do tempo, causadas pela revolução tecnológica e da comunicação são outro desafio para os mais velhos. Todos estão conectados, através da internet, aproximam-se do mundo todo, mas os idosos, muitas vezes, desconhecem os detalhes para melhor utilização dos novos aparelhos.

No Brasil, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), em 2015, o número de consumidores de celulares ultrapassava a quantidade de cidadãos, com cerca de 283 milhões de linhas de celulares ativas. No ano de 2018, apontam o número de 234,7 milhões de celulares. Apesar da queda, o uso do celular tem possibilitado interação e acesso a serviços em diversos âmbitos, seja no trabalho, escola, negócios ou família. Nesse contexto, o idoso teve que se readequar a essas transformações tecnológicas.

Por um lado, tudo se tornou acessível. Através da internet, podemos preparar receitas incríveis, fazer compras online, assistir filmes, novelas e desenhos, pagar contas bancárias, marcar consultas médicas e muitas outras coisas. Além disso, os aplicativos e redes sociais, como WhatsApp, Facebook, Instagram e Twitter,  tornaram-se grandes meios de interação e comunicação entre usuários. Toda essa modernidade e explosão de informação em um único aparelho celular tem assustado boa parte dos idosos, gerando, por vezes, medo ou desconforto. Essa sensação pode ser reforçada por jovens, adultos e crianças, que já dominam essas ferramentas e não têm paciência para ensiná-los ou, simplesmente, acreditam que é “moderno” demais para eles. Castro, porém, afirma que se trata de um equívoco, pois “a internet já tem lá seus trinta anos de idade, portanto é meio bobagem pensar que somente o jovem transita por ela”.

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Para saber mais sobre a realidade do idoso e sua interação com o mundo digital, a Revista Viva+ realizou uma pesquisa de campo no Parque da Água Branca, localizado na Barra Funda, em São Paulo, no Instituto Melhor Idade, que realiza bailes três vezes por semana. A pesquisa teve como objetivo levantar dados que mostrem como esses grupos fazem uso do celular, entre outras informações de apoio. Geralmente, o baile recebe mais de quinhentos idosos. Ao todo, foram 100 idosos entrevistados, entre 60 a 95 anos de idade, sendo 58 mulheres e 42 homens.

Veja o gráfico a seguir, com homens e mulheres conforme faixa-etária:

 Além da dança, os principais interesse que levam essas pessoas a frequentar o baile, incluem: buscar novas amizades, namorar, melhorar o condicionamento físico e praticar um hobby.

Entre os entrevistados, boa parte é formada por viúvos (47 no total), em seguida, solteiros (24), os casados (17) e os divorciados (12). Há um número significativo de idosos que possuem celular (82%), enquanto poucos declaram não possuir um aparelho (18%).

Curiosamente, 36% dos idosos afirmam não apresentar dificuldades para manusear o celular. Em contrapartida, 33% admitem não dominar essas ferramentas, enquanto o restante, 31%, acredita que sabe mexer um pouco. Verificamos as principais dificuldades que os entrevistados possuem, entre elas: tirar fotos, enviar mensagens, enviar fotos, abrir áudio, adicionar contato, navegar nas redes sociais, baixar músicas e acessar a internet.

O publicitário Fabrizio Amendola, conhecido como Neto de Aluguel, oferece um serviço em que ensina idosos a utilizar melhor o celular. “A principal dificuldade é entender o mecanismo do telefone. Se for analisar, a cada toque vai para uma tela diferente e, às vezes, eles não se dão conta de que aquilo é como se fosse um livro, são páginas. Eles se perdem. Muitas vezes, um toque diferente se transforma em uma dúvida, porque é uma mensagem nova que aparece, uma nova informação, e aquilo para ele é um mundo de incertezas. Quando eles se acham, no telefone, começam a se localizar, ver o que cada aplicativo faz, qual é a função e aonde eles precisam ir, o mundo para eles fica mais fácil”, conta. 

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Outros usos para o celular

   A utilização do celular para jogos, segundo a nossa pesquisa, não foi tão expressiva, totalizando 17% dos entrevistados, devido à falta de paciência para entender a dinâmica de games. Outra questão em que muitos idosos têm dúvidas são as redes sociais, uma forma de interagir com pessoas do outro lado na telinha.

 

Na pesquisa, o WhatsApp dispara, sendo o mais utilizado pelos idosos. Lembrando que alguns usuários assinalaram mais de um aplicativo, é importante ressaltar que 53 pessoas disseram não usar redes sociais, por motivos diversos. Veja o gráfico a seguir.

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Para 29% dos entrevistados, o uso da tecnologia no relacionamento familiar interfere muito, gerando falta de atenção, de diálogo e respeito com o próximo. Para 66% dos entrevistados não interfere, pois eles acompanham a tecnologia, sentem-se livres e a familia fica mais unida. Já o restante, 5%, disse que interfere um pouco, com netos excessivamente conectados, mas consideram que a tecnologia auxilia no cotidiano.

A maioria dos entrevistados dedica ao celular até 2 horas por dia. Observe o gráfico abaixo:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Confira o link da descrição completa da Pesquisa.
 

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Se existe um olhar repreensivo e preconceituoso que acredita que o idoso é incapaz de se integrar ao mundo digital e às transformações, as pesquisas mais recentes demonstram exatamente o contrário. A antropóloga Mirian Goldenberg estuda essa dificuldade de aceitação do envelhecimento nas sociedades

contemporâneas. “As representações sobre a velhice na nossa cultura são muito cruéis,

o velho é aquele que está aposentado, acabado, que terminou a vida, que não tem

mais projetos. Essas representações permanecem, apesar do comportamento e

das pessoas terem mudado muito”, diz.

Para transformar essa visão negativa, Goldenberg cunhou o termo “bela velhice”,

que divulga em artigos nos jornais e revistas, aparições em programas de TV e em

palestras pelo Brasil todo. “As imagens sobre o envelhecimento são muito

negativas. O que eu vejo é que na vida real as pessoas estão vivendo muito bem,

mas nas propagandas, nas novelas, na mídia, ainda existe uma representação muito

negativa ou, às vezes, muito caricatas da velhice. Por isso, muitos têm dificuldade de

envelhecer na nossa cultura. Aqui, as imagens, representações e exemplos de uma bela

velhice são muito raras, mas a realidade é outra”, conclui.

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Essa é também a proposta da Revista Viva+, ao trazer histórias de pessoas que envelhecem com alegria, muita disposição para viver, amar, cuidar da saúde e aprender sempre mais.

Confira nosso levantamento de serviços e cursos dirigidos a idosos, que ajudam a dominar esse desafiador mundo digital. Link para a lista.

Podcast

Confira abaixo o Podcast que traz uma reflexão sobre os benefícios que a dança sênior oferece para o idoso e suas dificuldades em relação ao uso do celular:

Podcast - Viva Mais
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